terça-feira, 29 de abril de 2008
Infólogo e a infologia
O dia em que tudo virou info. Não sei o dia ao certo, mas me lembro quando era criança e comecei a desenhar super-heróis, era o início de um ilustrador, assim como quando comecei a copiar os desenhos da revista Mad, nascia o caricaturista, ou quando fazia esculturas de barro dos personagens da novela Roque Santeiro, despertava o escultor, ou quando fazia quadrinhos, pegava o feeling do diagramador.
Bem mais tarde, quando "aprendemos" composição, harmonia, secção áurea e segmento áureo, desenhando frutas, circulos, cubos e pirâmides, e realizávamos lindos desenhos e nos sentíamos verdadeiros artistas, mas nem imaginaríamos quão complexo se tornaria uma composição numa revista ou jornal. Mas depois de alguns anos trabalhando com isso, e acompanhando os avanços em softwares que fazem o papel deste "artista" do passado, vemos que o trabalho se reduz a "alinhar e distribuir textos e imagens seguindo o projeto gráfico da empresa". Simplista demais? Sim, é isso mesmo. Num clic de organiza tudo muito mais fácil. O que quero dizer, não é que a vida ficou mais fácil, nem que o artista morreu. Mas nos anos 80, quando diagramava com past-up e cola de benzina, nos referíamos aos infográficos de outra maneira. Vou explicar:
Ilustração técnica: Quando tínhamos uma planta de uma casa em perspectva, a visão interna de um navio, a trajetória da gasolina em um motor, um carro em raio-X, aqueles manuais de vendedor, primeiros socorros com situações no estilo passo-a-passo. Hoje chamamos tudo isso de infográfico.
Ilustração científica: Quando fazia a evolução de Darwin, ou aqueles visual-aid para os laboratórios médicos, com ilustrações de pulmão, o corpo humano em geral, feitas no bico de pena, canetinhas Rotring, Leroy e pra caprichar, paspatour e papel manteiga ou vegetal p/ proteger. A lagarta que vira borboleta, a cadeia alimentar. Hoje chamamos tudo isso de infográfico.
Ilustração realista: Me lembro dos meus ídolos Hajime Sorayama, Boris Valejo, Benício, Hector Gomes Alísio, e o abuso do aerógrafo. Derramei muita ecoline em papéis Fabriano, Schweller, Opaline, máscaras adesivas, líquidas. Hoje se abusa no que há de sofwares que facilitam sua confecção. 3DMax, Cinema 4D, Poser, Blender, Dimention, Skectch-up... Quando bem feita, quase não se percebe o software. O truque é usar a maior quantidade deles e dar um grau no Photoshop ou na mão, pra quebrar um pouco. Por vezes pode ser substituído por uma ilustração realista, cartum, foto-montagem, colagem. Vai muito do gosto do editor e do projeto gráfico. Mas quando se opta por realismo, quase sempre se pensa em 3D. Aquele rosto com informações sobre quantas cirurgias se fizeram (botóx, peeling, fios de ouro), Aquele organograma dos funcionários em visão isométrica, Aquela esfinge, ou pagode japonês com informações ao lado sobre suas peculiaridades. Muitas vezes a ilustração realista ou é técnica ou científica. Hoje chamamos tudo isso de infográfico.
Gráfico: Uma tabela nutricional, um homem escalando um gráfico. Um gráfico de barras em forma de cigarro. Um saldo de gols de um campeonato, O resultado do jogo do bicho (saía no jornal da tarde). Hoje chamamos tudo isso de infográfico.
Mapas: Onde fica tal coisa, Como chegar a nossa empresa, onde foi o acidente, a cidade feita em cartum, a tragetória da São Silvestre, por onde passará o Papa-móvel. Circuito de fórmula 1. Hoje chamamos tudo isso de infográfico.
É quando um editor se vira pra mim e pergunta:
- Você sabe fazer infográfico?
Eu respondo:
- Sei fazer ilustração científica, técnica, realista, gráficos, mapas, sei diagramar, pois sei composição e domino uma grande parte de sofwares que existem no mercado.
Daí, ele diz:
-Tá bom, mas infográfico você já fez um?
Daí, enquanto respiro fundo, penso numa outra resposta;
- Já, mas dei descarga.
E escolho terminar o papo com:
- Eu faço um info e te mando pra você ver. Ok?
Moral da história: Um bom info, não se faz sozinho. Se faz com a santíssima trindade: Editor de arte, Jornalista e Artista.
O peso de cada um equilibrado é a formula do sucesso.
Não adianta ter uma linda ilustração se a leitura é confusa, ou é carente de informação. Assim como o inverso.
O papel do editor é fundamental, ele deve ouvir ambas as partes e fazer a fusão municiando o ilustrador de informação, referências e o jornalista de senso de espaço e composição. Como um maestro. Nada está nas mão de um só. Se um trabalho pouco, comprometerá todo o info.
Se falta informação, vira um desenho com textos em volta.
Se falta criatividade, fica um info gratuito, sem propósito.
Se falta unidade, compromete o projeto gráfico.
terça-feira, 1 de abril de 2008
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